CHARGES DE MAIO

“Estamos  chegando do fundo da terra,
estamos chegando do ventre da noite,
da carne do açoite nós somos,
viemos lembrar.”
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“estamos chegando da morte nos mares,
estamos chegando dos turvos porões,
herdeiros do banzo nós somos,
viemos chorar.”
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“Estamos chegando das velhas senzalas,
estamos chegando das novas favelas,
das margens do mundo nós somos,
viemos dançar.”
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“Estamos chegando dos trens dos subúrbios,
estamos chegando dos loucos pingentes,
com a vida entre os dentes chegamos,
viemos cantar.”
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“Estamos chegando dos trens dos subúrbios,
estamos chegando dos loucos pingentes,
com a vida entre os dentes chegamos,
viemos cantar.”
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“O som do atabaque
marcando a cadência
dos negros batuques
nas noites imensas
da África negra
da negra Bahia
das Minas Gerais
dos surdos lamentos
calados tormentos
acolhe Olorum.”
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“Os pés tolerados na roda de samba,
o corpo domado nos ternos do congo,
inventam na sombra a nova cadência,
rompendo cadeias,
                               forçando caminhos,
ensaiam libertos
a marcha do Povo,
a festa dos negros, acolhe Olorum.”
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“Vai ser abolida
a paz da Abolição
que agora temos.
E contra a paz cedida,
A Paz conquistada teremos!!!
Saravá,
Do novo quilombo do amanhã.
– Aos treze de maio de mil-oitocentos-e-oitenta-e-oito,
nos deram apenas decreto em palavras.
Mas a Liberdade
Vamos conquistá-la!”
                                      
                                          In “Missa dos Quilombos”,
                                          Milton Nascimento, 1982.